Arteterapia Gestáltica
Em Gestalt-Terapia, o sujeito é considerado um sistema aberto em constante interação criativa com o ambiente. Através das funções de contato, que envolvem a tomada de consciência e a resposta às informações do campo, ocorre a auto-regulação organísmica. Nesse contexto, a criatividade desempenha um papel fundamental, pois implica em conceber a realidade e dar uma resposta pessoal e autêntica. O processo criativo é alimentado pela awareness da complexidade da relação eu-ambiente e pela disposição em se abrir para o desconhecido e o novo. Ao estabelecer contato com o outro e com o diferente, ocorre uma oscilação contínua entre o eu e o outro, possibilitando o surgimento de novas concepções e a transformação da realidade. A criatividade, portanto, é uma forma de colocar algo novo no mundo e influenciar o ambiente ao nosso redor.
Em Gestalt-Terapia, o sujeito é compreendido como um sistema aberto, em constante desenvolvimento e crescimento em função de trocas criativas com o ambiente; ou seja, ele é um ser relacional que interage com o mundo. As funções de contato, mecanismos que o indivíduo dispõe para se relacionar com o campo, são sempre criativas na medida em que lidam com o novo. Ao longo desses processos de contato o indivíduo vai respondendo às informações, sensações e percepções decorrentes das trocas com o sistema, e isso é chamado de auto-regulação organísmica. Os ajustamentos que o sujeito precisa fazer para experimentar o mundo são sempre criativos porque se referem a uma assimilação constante entre o novo e o já conhecido (Ciornai, 1994).
A Gestalt-Terapia, bem como a Arteterapia, têm fundamentos ancorados em processos de criação e, portanto, ao falarmos de tais abordagens e suas interconexões, faz-se necessário compreender melhor o que é criatividade e processo criativo e quais são suas implicações para as referidas abordagens e suas práticas.
Partimos aqui da Gestalt-Terapia, que concebe o indivíduo como um sistema aberto, capaz de crescer e se desenvolver através de intercâmbio criativo com o ambiente, como dito acima. Para essa escola, o indivíduo é visto não em isolamento, mas sempre como parte de um campo ou sistema, entendido, portanto, enquanto ser relacional (Ciornai, 1994). O indivíduo, lançado no mundo, tem como parâmetro sua relação com o ambiente e pode, a partir de critérios próprios, interagir de forma pessoal, de modo a ser criativo e com isso se desenvolver. Por outro lado, ele pode alienar-se de si e de seus critérios e se manter em uma posição impessoal, de modo a agir no mundo de forma pouco criativa, o que certamente dificulta qualquer crescimento. Portanto, “O processo criativo começa com a compreensão do que existe ali: a essência, a clareza e o impacto do que está à nossa volta.” (Zinker, 2007, p.35).
A compreensão, a tomada de consciência ou a awareness da complexidade da relação eu-ambiente é fundamental no processo criativo. Porém, Zinker (2007) nos faz atentar para o fato de que “A criatividade não é somente a concepção, é o ato em si, a realização do que é urgente, do que exige ser anunciado” (p.15). A criatividade consiste, portanto, em: conceber a realidade e o meu critério próprio diante dela e em adição, dar uma resposta. A resposta em geral implica em uma ação, em fazer ou colocar algo de novo, mas não um algo qualquer, e sim algo que diga respeito a uma exigência pessoal, a uma indagação interna diante da realidade que inspira e pede por expiração.
Para a Gestalt-Terapia, o instrumental do qual o indivíduo dispõe para ir ao encontro com a realidade, sentir, avaliar, selecionar e responder ao que está a sua volta são as funções de contato, sendo que todo contato é criativo, pois lida com o novo (Ciornai, 1994). Todo contato implica em mudança, e ao lidar com a realidade como tal, o indivíduo se depara invariavelmente com situações e contextos novos que invariavelmente implicam em uma nova concepção. Ciornai ressaltou durante a entrevista o quanto a palavra “contato” é essencial em Gestalt-Terapia. Segundo ela, ”o contato com o desconhecido, o aqui e agora das nossas relações, sempre trazem um ingrediente do novo, e nos permite vislumbrar outras dimensões”. Esta nova concepção tem a potência de gerar novidades em si e tem a potência de, a partir de ações, gerar novidades no ambiente. Podemos dizer, neste sentido, que a criatividade é uma concepção que em ato, diante da realidade dada, coloca algo de novo na realidade.
Quando ler contato:
*é a tomada de conhecimento de, e o lidar com, o outro, o não eu, o diferente, o estranho. [...] Não é o estado, mas uma atividade com um certo ritmo de tocar e deixar fluir. Fazemos contato ao aceitar e lidar com o outro e experenciar-nos ao agir assim. É uma oscilação continua entre o eu e o outro. (Laura Perls, apud Alvim, p. 62)
Texto extraído do artigo:
MARIANE COIMBRA, Silva; EDUARDO MOURA DE, Carvalho; RAFAELA DIAS DE, Lima. Arteterapia Gestáltica e suas relações com o processo criativo. IGT rede, Rio de Janeiro , v. 10, n. 18, p. 01-19, 2013 . acessos em 16 jun. 2023.